segunda-feira, 6 de outubro de 2014

TEOLOGIA E CIÊNCIA: História de Israel e Cristianismo. A ação de Deus na história

A história de Israel é de vital importância para a compreensão da fé na existência de um único Deus, criador de todas as coisas e, consequentemente em Jesus Cristo. Para compreender a origem do cristianismo é necessário conhecer a relação entre a história de Israel e a história deste personagem. Após esse passo será possível relacionar a história do cristianismo e a história do Ocidente.

O monoteísmo é seguido pelo Judaísmo, Cristianismo e Islamismo. As três religiões possuem seus fundamentos na história de Israel.

O Estado de Israel, atualmente, possui cerca de 8 milhões de habitantes. Os seus fundadores fazem parte de um grupo étnico espalhado em diversos países conhecidos como judeus. Os judeus formam um dos grupos étnicos mais antigos do mundo. Um grupo étnico é formado por pessoas que possuem a mesma cultura, língua e genética, ou seja, possuem um determinado parentesco entre si.

O povo judeu distingue-se dos outros grupos étnicos, sobretudo, em sua religião. A religião motivou e continua motivando os judeus a casarem-se entre si ao longo dos séculos. O judeu mais conhecido da história foi Jesus de Nazaré. Através dele o monoteísmo foi difundido no mundo inteiro. Por isso, é possível afirmar que o monoteísmo é a principal contribuição do judaísmo à humanidade.

A história do povo judeu, também conhecido como hebreu, suscita diversas questões: Por que este povo tornou-se monoteísta? O que ocorreu em sua história que os levou a apegarem-se em sua religião a ponto de sofrerem perseguições por ela ao longo dos séculos?

A Bíblia não é formada por histórias míticas como nas demais religiões. Os livros que a compõem estão inteiramente ligados à história vivida por este povo. Portanto, para eles, Deus revelou-se na história. Você pode se perguntar: Como é possível Deus revelar-se na história?

O homem moderno tem tendência a julgar toda e qualquer religião sobre o paradigma do mito, da tendência primitiva de atribuir a fenômenos físicos a ação de espíritos ou deuses. Contudo, este paradigma não pode ser utilizado na análise da fé monoteísta judaico-cristã. Atualmente, a ciência da História sabe que é impossível compreender qualquer realidade vivida de forma plena, pois ao escrever os fatos o narrador sempre lhes confere seu ponto de vista. O autor sempre faz uma interpretação dos fatos que lhe convém ao narrar algo. Neste sentido, um autor bíblico pode atribuir a Deus ações que ele não fez. Você como alguém que compartilha o ideal científico pode chegar à conclusão que Deus somente pode ser reconhecido como um personagem ativo na história se indubitavelmente for possível atribuir acontecimentos a ele. 

Você pode formular diversos parâmetros sobre o que lhe convenceria a acreditar na ação de Deus na história. A história de Israel nos mostra uma pedagogia: Deus sempre anunciou suas obras com antecedência e as realizou. Outra característica do anúncio é: Deus muitas vezes anunciou o que os judeus não queriam ouvir, ou que lhes era impossível de se cumprir. 

A pedagogia divina: promessa e cumprimento

A história do povo de Israel é muito longa. Ela teve início por volta do ano 1800 aC com Abraão, o qual era natural de Ur dos Caldeus. Abraão e sua esposa Sara não tinham filhos e eram de idade avançada quando Deus disse a Abraão:“Sai de tua terra, do meio de teus parentes, da casa de teu pai, e vai para a terra que eu vou te mostrar. Farei de ti uma grande nação e te abençoarei; engrandecerei o teu nome de forma que ele se torne uma benção” (Gn 12,1-3).
Abraão acreditou que um ser divino falou com ele. Não havia em nenhuma parte do planeta o culto monoteísta naquele tempo. Abraão fez uma experiência sobrenatural que lhe permitia acreditar que embora sua esposa sendo estéril e de idade avançada, para Deus nada é impossível.
Deus prometeu a Abraão a terra de Canaã para os seus descendentes. Nela eles cresceriam ao ponto de formarem uma nação (cf. Gn 12,7). Abraão, sua esposa Sara, Isaac e Rebeca, Jacó e Lia, foram sepultados em Hebrom. O sepulcro deles existe até hoje. O mesmo acontece com o sepulcro de Raquel, esposa de Jacó, o qual está em Belém, hoje território Palestino.
O nascimento de Isaac marcou profundamente a descendência de Abraão como um acontecimento sobrenatural. Isaac gerou dois filhos, Esaú e Jacó. O nome Israel foi um apelido dado por Deus a Jacó. O próprio Jacó passou a se chamar Israel. Os seus doze filhos eram conhecidos como os filhos de Israel. No séc VII aC, quando os judeus escreveram sobre suas origens as duas promessas já haviam sido cumpridas.
Israel transmitiu aos seus doze filhos a história de seu pai Isaac e de seu avô Abraão. Quando os hebreus eram escravos do faraó do Egito era lhes conhecido o anúncio feito ao seu principal antepassado: “Deus disse a Abraão: Fica sabendo que tua descendência viverá como estrangeiros numa terra que não lhes pertence. Serão reduzidos à escravidão e oprimidos durante quatrocentos anos, mas eu farei o julgamento da nação que os escravizará, e depois sairão dali com grandes riquezas” (Gn 15,13-14).
A escravidão anunciada a Abraão ocorreu no Egito após a morte de Jacó. Israel, no auge do império egípcio, saiu da escravidão. A memória deste acontecimento passou é celebrada todos os anos de geração em geração pelos judeus. A festa recebeu o nome de páscoa (do hebraico, passagem), também, conhecida como festa da libertação.
O Êxodo é o principal marco da história do povo Judeu. De acordo com a tradição, a primeira celebração da Páscoa ocorreu há 3.500 anos, no dia 14 de Nissan. A Torá afirma que Deus enviou dez pragas sobre o povo egípcio. Antes da décima praga, o profeta Moisés foi instruído a pedir para que cada família hebreia sacrificasse um cordeiro e molhasse os umbrais das portas com o sangue do cordeiro, para que não fossem acometidos pela morte de seus primogênitos. Chegada à noite, os hebreus comeram a carne do cordeiro, acompanhados de pão ázimo e ervas amarga. À meia-noite, um anjo enviado por Deus feriu de morte todos os primogênitos egípcios, desde os primogênitos dos animais até mesmo os primogênitos da casa do Faraó. Então o Faraó, temendo a ira divina, aceitou liberar o povo de Israel para adoração no deserto, o que levou ao Êxodo.
A estela de Merenptah pertenceu originalmente ao faraó Amenófis III (1417 a 1379 aC). Israel foi mencionado nela da seguinte maneira: “Israel está destruído [ou desvastado], a sua semente [ou descendência] não existe mais”. Deixo a você tomar suas próprias conclusões a respeito desta inscrição sobre Israel.
A saída do Egito permitiu Israel partir rumo à conquista de Canaã. Foi durante o Êxodo que surgiu os Dez Mandamentos, uma aliança que o povo judeu fez com Deus como adesão a ele como único Senhor. Deixo a você a seguinte questão: Por que o povo de Israel aceitaria fazer uma aliança com Deus após a saída do Egito até o dia de hoje? Os Dez Mandamentos condensam a mais alta conduta moral já descoberta pela humanidade, não há nenhum povo que discorde da importância de seus princípios.  
De acordo com a Torá, durante o êxodo Deus anunciou como conduziria Israel após lhe dar a terra prometida aos patriarcas Abraão, Isaac e Jacó: “E tu Israel, ouve e cuida de pôr os mandamentos em prática, para seres feliz e te multiplicares sempre mais, na terra onde corre leite e mel, como te prometeu o Senhor, o Deus de teus pais” (Dt 6,3).
Deus anunciou a Moisés os limites geográficos da terra que daria a Israel: “Moisés subiu das planícies de Moab ao monte Nebo, ao cume do Fasga, defronte de Jericó. E o Senhor lhe mostrou todo o país, desde Galaad até Dã, o território de Neftali, a terra de Efraim com Manassés, toda a terra de Judá até o mar Mediterrâneo, o deserto do Negueb e a região do vale de Jericó, a cidade das palmeiras, até Segor” (Dt 34,1-3).
Israel recebeu a promessa da felicidade se seguir os mandamentos. Deus sabia que eles não lhe obedeceriam e, por isso, anunciou-lhes que perderiam a terra prometida, e seriam dispersos entre as nações. Porém, se arrependessem Deus lhes traria de volta à terra que antes lhes concedera (cf. Dt 4,25-31).
De acordo com a Torá, antes de entrarem na terra prometida, houve inclusive outra profecia que Deus deu ao povo de Israel através do patriarca Jacó.  Foi-lhe anunciado que de seu filho Judá surgiria uma tribo, dessa tribo surgiria uma dinastia real, do sangue desta dinastia viria o Filho de Deus, o Messias (cf. Gn 49,10-12).
As profecias anunciadas, por volta do século XV aC, realizaram-se. Durante o reinado de Davi, descendente de Judá, a terra prometida já estava em mãos de Israel. A prova arqueológica da existência e extensão do reino de Davi é a “Estela de Tel Dan”, encontrada durante escavações de Israel em Tel Dan em 1993. Atualmente está no museu de Israel em Jerusalém.
Israel como foi anunciado, também, abandonou o culto a Deus e seus mandamentos. Com isso, realizou-se a profecia da queda do Reino de Israel pelos Assírios em 722 aC e de Jerusalém pelos Babilônios em 596 aC. O exílio da Babilônia marcou profundamente a cultura israelense, pois eles viram que de fato, há um único Deus que escolheu formar um povo através de Abraão, formou-o e libertou-o da escravidão do Egito, deu-lhe a terra prometida, anunciou e fez com que surgisse uma dinastia da tribo de Judá e dispersou o povo entre as nações.
O exílio não aconteceu sem que o povo de Israel soubesse com antecedência não somente no século XV aC através de Moisés. Deus enviou profetas, após a morte de Davi, ano após ano para relembrar o povo que se desviava, afim de que se convertessem e não fossem para o exílio.
Os profetas anunciaram, também, antes e durante o exílio que Deus lhes mandaria de volta através de um rei persa, chamado Ciro, que iria conquistar Babilônia. Esta profecia aconteceu. O rei Ciro, por volta do ano 538 aC, promulgou um edito, por meio do qual Israel pode voltar a sua terra. A arqueologia encontrou o Cilindro de Ciro, o qual dá testemunho desse tempo. A presença de Judeus que preferiram permanecer na Babilônia formando uma comunidade neste local é indiscutível historicamente.
A presença dos profetas como instrumentos da ação de Deus na história de Israel era surpreendente até mesmo nos detalhes que anunciavam. Através deles é possível perceber claramente que somente Deus é capaz de realizar o que aconteceu na história de Israel. Durante o exílio os escritos dos profetas verdadeiros, ou seja, aqueles cujas profecias se realizaram foram agrupados formando uma coleção de livros, a Bíblia (em grego, livros).  Nesses livros estão contidas as profecias da principal ação de Deus na história, o envio do seu Filho.

As profecias da vinda do Filho de Deus: anúncio e cumprimento

É impossível para a espécie humana anunciar detalhes da vida de alguém com séculos de antecedência. Anunciar onde e como uma pessoa irá nascer. O que sofrerá em sua infância? O que fará na vida adulta, como irá se comportar? O que irá realizar? Detalhar como irá morrer e o alcance de sua obra na terra. Como determinar tudo isso se não podemos garantir nem se estaremos mortos ou vivos amanhã? Contudo, Deus anunciou tudo isso por meio dos profetas a respeito da vinda de seu Filho.
A revelação da vinda do Filho de Deus foi progressiva durante os dezoito primeiros séculos da história de Israel.

Onde e como nascerá o Filho de Deus?

O patriarca Jacó, anunciou que de seu filho Judá surgiria uma dinastia que governaria Israel. Está escrito: “O cetro não será tirado de Judá nem o bastão de comando de entre seus pés, até que venha aquele a quem pertencem e a quem obedecerão os povos” (Gn 49,10). Os israelitas no mundo inteiro, até hoje, são chamados de judeus por causa de Judá. De fato, foi em Judá que se consolidou o reinado de Israel através da dinastia de Davi. A estrela de Davi é o símbolo deste povo até os dias de hoje. O profeta anunciou que da descendência de Judá viria alguém “a quem obedecerão os povos”. A princípio é possível apenas afirmar a vinda de um grande rei que exercerá influência em todos os povos.
Israel guardou esta profecia em sua tradição, a qual foi completada séculos depois (por volta do ano 1000 aC) durante o reinado de Davi. O profeta Natã lhe anunciou que de sua descendência surgiria um rei que governará para sempre.
Os séculos passaram, por volta dos anos 736-717, o profeta Isaías anunciou ao rei Acaz a palavra de Deus: “Eis que a virgem conceberá e dará a luz um filho e lhe porá o nome de Deus conosco” (Is 7,14). Alguns interpretam este texto de forma isolada afirmando que seu significado refere-se somente ao momento em que a profecia foi anunciada. De fato, Isaías anunciou que diante de uma batalha iminente contra os Assírios, Deus estaria com eles (cf. Is 8,10). No entanto, um pouco mais a frente no livro, o profeta remonta a profecia antiga feita a Davi. A profecia da vinda do descendente de Davi é mais uma vez aprofundada. O profeta explica quem é o menino que irá nascer:

Pois nasceu para nós um menino, um filho nos foi dado. O poder de governar está nos seus ombros. Seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai para sempre, Príncipe da Paz. Ele estenderá seu domínio e para a paz não haverá limites. Sentado no trono, com o poder real de Davi, fortalece e firma esse poder, com a prática do direito e da justiça, a partir de agora e para sempre. O amor apaixonado do Senhor dos exércitos é que há de fazer tudo isso (Is 9,5-6).

Como o Filho de Deus viverá sobre a terra?

O profeta está dizendo que o menino é Deus Forte e Príncipe da Paz. Seu domínio não será exercido em extensões geográficas, mas nos corações, pois está escrito “ele estenderá seu domínio e para a paz não haverá limites”. A manifestação de seu reinado está onde há a prática do direito e da justiça. Em outras palavras, a promessa da felicidade dada por meio de Moisés àqueles que cumprem os mandamentos de Deus é reafirmada. Deus promete paz interior àqueles que serão governados pelo príncipe da paz que irá nascer.
Quando Isaías trouxe esta profecia, as tribos do norte estavam prestes a serem deportadas para a Assíria. Deus disse que no futuro, esse povo que vivia na escuridão nos territórios de Neftali e Zabulon, porque o abandonaram, seria socorrido por seu enviado (cf. Is 8,21-23).
Na época de Isaías havia um profeta chamado Miquéias. Ele anunciou o local onde nasceria o Filho de Deus e que ele é a própria paz:

Mas tu, Belém de Éfrata, pequenina entre as aldeias de Judá, de ti é que sairá para mim aquele que há de ser o governante de Israel. Sua origem é antiga, de épocas remotas. Por isso, Deus os abandonará até o momento em que der à luz aquela que deve dar à luz. Ele se levantará para apascentar com a força do Senhor, com o esplendor do nome do Senhor seu Deus. E estarão bem seguros, porque agora ele é grande até os limites do país, ele próprio será a paz (Mq 5,1-4).

Essas profecias realizaram-se no tempo do imperador Augusto, o qual mandou fazer o recenseamento de toda a terra - o primeiro recenseamento, feito quando Quirino era governador da Síria. José, que era descendente de Davi, subiu de Nazaré, na Galiléia, à cidade de Davi, chamada Belém, na Judéia, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida (cf. Lc 2,1-5). Maria estava grávida por obra do Espírito Santo. Acreditar que uma mulher pode conceber sem ser fecundada por um sêmen humano é possível somente pela fé. Todavia, Jesus, ao nascer de Maria, filho de José, descendente de Davi, na cidade de Belém de Éfrata, demonstra que as profecias nele se cumprem.
Uma pergunta é inevitável neste momento de reflexão: Se não foi um homem que fecundou Maria, a paternidade de Jesus deverá ser divina? Sim, com certeza. Outra pergunta naturalmente surge: Portanto, se Jesus é Filho de Deus, ele deverá fazer coisas que somente Deus é capaz? Exatamente.
O profeta disse que o enviado de Deus manifestaria a luz de Deus nas regiões de Neftali e Zabulon. O modo como ele iria manifestar essa luz aparece em outra profecia do século VIII: “Então, se abrirão os olhos dos cegos e se desimpedirão os ouvidos dos surdos; os coxos saltarão como cervos e a língua dos mudos cantará” (Is 35,5). O mesmo profeta anuncia que além de milagres o enviado de Deus se dedicará ao anúncio da justiça e do direito (cf. Is 42,1). Moisés, no século XV, anunciou que o enviado seria um profeta como ele (cf. Dt 18,15). Outro profeta anunciou que seus ensinamentos seriam transmitidos por meio de parábolas (cf. Sl 78,2).
Jesus de Nazaré cumpriu essas profecias. Ele dedicou-se ao anúncio e a realização de milagres, sobretudo nas cidades ao redor do Mar da Galiléia, a mesma região conhecida como Neftali e Zabulon. Ele curou cegos, coxos, paralíticos, surdos, multiplicou pães e peixes. Os ensinamentos dele eram superiores e mais sábios que os de Moisés, algo que não havia ocorrido antes e nem foi superado depois.

Como o Filho de Deus morrerá? Ele vencerá a morte?

Deus quis de tal forma apresentar ao mundo seu Filho que detalhou, com séculos de antecedência, por meio dos profetas, inclusive detalhes de como Jesus iria padecer, morrer e ressuscitar.
Vejamos alguns exemplos:
·         Ele será desprezado por seu povo: “Era desprezado e o mais indigno entre os homens, homem de dores e experimentado no sofrimento. Como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado e não fizemos dele caso algum” (Is 53,3; Sl 2,2).
·         Ele seria traído por um amigo muito íntimo. Foi o que aconteceu com a traição de Judas que era um dos apóstolos de Jesus: “Até meu próprio amigo íntimo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim seu calcanhar” (Sl 41,9).
·         Ele seria vendido por trinta moedas de prata. E foi justamente o que Judas recebeu por sua traição: “Eu lhes disse: Se parece bem aos vossos olhos, dai-me o que me é devido, se não deixa-o. Pesaram pois o meu salário, trinta moedas de prata” (Zc 11,12-13).
·         Judas com esse dinheiro comprou o campo do Oleiro, como o profeta Zacarias no século VI aC havia anunciado (cf. Zc 11,13).
·         O mesmo Zacarias anunciou que o enviado seria abandonado por seus próprios discípulos (Zc 13,17). Os apóstolos abandonaram Jesus quando ele foi preso.
·         Ao ser preso o enviado seria acusado por falsas testemunhas (Sl 35,11). Jesus viveu isso, durante seu julgamento diante do Sinédrio.
·         Ele permanecerá em silêncio, enquanto o acusam. Jesus cumpriu a profecia que disse: “Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu sua boca, como cordeiro foi levado ao matadouro e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu sua boca” (cf. Is 53,7).
·         Ele será ferido e humilhado. Sofrerá isso por amor, para perdoar os pecadores: “As minhas costas dei aos que me feriam, as minhas faces aos que me arrancavam os cabelos, não escondi a minha face dos que me afrontavam e me cuspiam” (Is 50,6). Esses fatos Jesus viveu durante sua flagelação.
·         O enviado seria escarnecido: “Mas eu sou verme e não homem, opróbrio dos homens e desprezado do povo. Todos os que me vêem zombam de mim: afrouxam os lábios e mexem a cabeça: Confiou no Senhor! Livre-o ele, salve-o, pois nele tem prazer” (Sl 22,6-8). Jesus experimentou esses sofrimentos, enquanto estava na cruz.
·         Ele teria suas mãos e pés traspassados (cf. Zc 12,10; Sl 22,16). Jesus realizou estas profecias, pois foi pregado em uma cruz.
·         Condenado, porém, seus ossos não seriam quebrados, ao invés disso seu lado seria traspassado (cf. Sl 34,20; Is 53,3). Isto aconteceu após a morte de Jesus na cruz.
·         Antes de morrer, os profetas anunciaram que suas roupas seriam sorteadas (cf. Sl 22,18), que sentiria sede (cf. Sl 22,15), seus inimigos lhe dariam fel para beber (cf. Sl 69,21), o enviado se sentiria abandonado por Deus (cf. Sl 22,1), mas o enviado lhe entregaria seu espírito (Sl 31,5), seria colocado em meio a malfeitores (cf. Is 53,12), mesmo assim daria o seu perdão a seus algozes (Is 53,12; Sl 109,4), seu sepulcro estaria ao lado dos ricos (cf. Is 53,9). Provavelmente, você sabe, ou ao menos ouviu dizer que tudo isso ocorreu com Jesus.
·         No dia de sua morte, o dia se tornaria noite: “Sucederá que naquele dia, diz o Senhor Deus, farei o sol se ponha ao meio-dia e entenebrecerei a terra em dia claro” (Am 8,9). Enquanto Jesus foi crucificado isso ocorreu durante três horas.
·         O enviado ressuscitará dentre os mortos: “Porque não deixara a minha alma no inferno, nem permitirás que teu santo veja corrupção” (Sl 16,10). Jesus ressuscitou.

As profecias sobre o nascimento, vida adulta, morte e ressurreição do enviado de Deus, realizam-se plenamente em Jesus. As testemunhas oculares da ressurreição, os apóstolos e os primeiros discípulos, não foram às únicas que experimentaram a força amorosa do ressuscitado. Há dois mil anos, Jesus tem se manifestado com poder na vida daqueles que creem em seu nome. Ele não somente continua realizando curas, milagres e prodígios, mas, sobretudo, transformando vidas e formando amigos. Após a ressurreição de Jesus, Deus continua conduzindo a história de Israel para demonstrar que ele está, também, de forma misteriosa agindo na história da humanidade.

Deus e a história após a ressurreição de Jesus

Os profetas do Antigo Testamento anunciaram que o ensinamento do enviado de Deus chegaria às ilhas mais distantes (cf. Is 42,4). Os ensinamentos de Jesus foram anunciados a todos os continentes, inclusive às ilhas mais distantes como as ilhas Cayman (Atlântico Sul), Pitcairn (Oceano Pacífico) e no território britânico da Antártida.

O profeta Zacarias, por volta do ano 300 aC, anunciou que os judeus seriam novamente dispersos pelo mundo inteiro, mas que no momento devido retornariam à Israel: “Hei de semeá-los por entre as nações e, lá longe, vão se lembrar de mim. Hão de criar filhos que depois voltarão; e serão tão numerosos como eram antigamente” (Zc 10,8-9).

A profecia da dispersão realizou-se na queda de Jerusalém no ano 70 dC. Os judeus foram dispersos pelo mundo inteiro, formando comunidades onde se instalaram.

No dia 14 de maio de 1948, uma data muito próxima a nós, o Estado de Israel, após 2000 anos volta a existir. O povo judeu manteve ao longo dos séculos o costume de casarem-se entre si, por isso é considerados um grupo étnico até hoje. Atualmente, os descendentes de Abraão são mais de 15 milhões no mundo.

Conclusão

A história de Deus é um exemplo notório da existência de Deus que agiu e continua agindo em sua história. Os profetas anunciaram a vinda do enviado de Deus que morreria e ressuscitaria. A realização das profecias na vida de Jesus de Nazaré demonstra que a história da humanidade é uma história de Deus com a humanidade.  A expansão da mensagem cristã a todos os povos e o retorno do povo judeu à terra prometida é reflexo da presença de Deus agindo, de forma misteriosa, na história.

Pode-se concluir que o cristianismo não é feito de mitos ou lendas, mas de fatos concretos, palpáveis. Por isso, é possível estabelecer um diálogo entre fé cristã e cultura, sobretudo a Ocidental.

2 comentários:

  1. Ótimo texto, ótima reflexão,Deus é o mesmo ontem, hoje e sempre, e suas promessas se cumprem na vida dos que crerem e seguem os seus ensinamentos.

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  2. Ótimo texto, prof. Leandro.
    PS: no penúltimo parágrafo, onde está escrito "A história de Deus é um exemplo notório...", não seria "A história de Israel" ao invés de "A história de Deus"?
    Abraços.

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