quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A origem do universo: A relação entre a física e as religiões

A mente humana busca incansavelmente conhecimento. A ciência quando não encontra certeza sobre algo utiliza termos como “teoria” ou “hipótese”. Ambos apenas demonstram tentativas de explicar uma realidade, são especulações. A reflexão quanto à origem do universo pode receber conotações diferentes no âmbito científico ou religioso. Contudo, é impressionante como possuem aspectos em comum. Convido você a refletir sobre os paralelos existentes entre as diferentes teorias propostas pela física sobre a origem do universo e as reflexões feitas em várias religiões.

A ordem cósmica e religiões chinesas

A maior parte dos físicos atuais reconhece a ordem presente no universo. O universo é regido por leis, é formado por leis que funcionam como um código cósmico. As leis estão integradas entre si de tal maneira que se houvesse uma mudança de 1/1000000000000000000 o universo deixaria de existir. A distribuição da matéria no universo se encontra em plena harmonia. O mundo é regido por constantes físicas perfeitas.

Como surgiu essa harmonia? Verifica-se uma ordem presente no interior das partículas dos átomos, forças como prótons, nêutrons e elétrons em constante harmonia entre si. A harmonia presente no interior de um átomo é muito forte. A fissão nuclear é capaz de produzir grandes explosões e catástrofes naturais. Por isso, a bomba atômica é um mal terrível para a humanidade.

A humanidade verifica harmonia e ordem não somente nos elementos químicos, mas, também, nos seres vivos. Observe a ordem presente no corpo humano. É impressionante o modo como às milhares de células formam cada órgão, o funcionamento de cada órgão, a harmonia presente em cada detalhe, sobretudo a ordem presente na mente humana. Não é preciso comentar sobre o funcionamento ordenado da mente, basta observar todos os avanços do conhecimento e da tecnologia.

O confucionismo e o taoismo são religiões milenares seguidas por milhares de pessoas nos países asiáticos. Essas religiões nasceram na China. Os fundadores observando o universo perceberam a ordem do universo e chegaram à constatação de que não é possível a matéria surgir e se ordenar por si mesma, é necessária a existência de algo que esteja fora do tempo e do espaço que não seja contingente, pois as energias que compõem a matéria são limitadas ao tempo, ao espaço, possuem início e fim e podem se transformar. A origem das forças negativas (Yin) e positivas (Yang), porém, possuem origem em uma realidade absoluta. O Absoluto nessas religiões é chamado de Tao. A origem do termo Tao (caminho) foi relacionada a uma realidade onipotente, onipresente e dotada de personalidade.  

A auto-criação do universo e o hinduísmo

O físico Stephen Hawking em seu livro    The Grand Design, afirma que o universo se explica sem Deus, pois o universo criou a si mesmo a partir de um vácuo quântico. Ele considera o vácuo quântico como o nada. O hinduísmo chama de Brahma, a principal divindade hindu, a energia que gera infinitamente todas as coisas e seres. Qual a relação entre uma teoria atea e uma visão panteísta?

Stephen Hawking sugere que um criador universal não poderia ter existido, pois para ele universos inteiros podem ser formados espontaneamente. Para ele qualquer coisa pode surgir de um vácuo quântico. Contudo, os físicos afirmam que não sabemos nem onde, nem como as leis da física se formaram.  Alguns cientistas afirmam que a ideia da criação espontânea pressupõe a existência de uma natureza antes do big bang. O nada segundo Hawking é um vácuo quântico, regido pelas leis da física.

Vácuo quântico, embora considerado como sendo o nada para Stephen, não o é em sentido estrito, pois é formado por energia. Trata-se do mais baixo nível de energia presente no universo. O pensamento de Hawking possui uma limitação lógica: Como algo não existente pode se formar por si mesmo?

A teoria do vácuo quântico se assemelha à ação da principal divindade hinduísta, Brahma, a fonte suprema da energia, inteligente, onipotente, que gera infinitamente todas as coisas. Neste sentido, tudo é deus para o hinduísmo.

No hinduísmo a intuição fundamental é que a realidade é uma só. O mundo, os homens, os deuses, tudo o que existiu, existe e existirá. Tudo é uma única realidade. Segundo o hinduísmo, tudo é Brahma, inclusive o homem. Brahma é o único Absoluto, a raiz e o fundamento de tudo, o Senhor que rege e sustém todas as coisas, o guia interior e o fim de cada ser vivo. Neste sentido, o mundo não é criado e não tem consistência em si mesmo. Mesmo que seja concebido como Maya (ilusão) pelo sábio Sankara (788-820 d.C.), ou seja descrito como o jogo de Deus, lila, pelos Visnuitas, o mundo é a eterna manifestação do eterno existente, a face fenomênica da eterna Pessoa, a morada mutável do permanente inabitável. Quando se fala de início ou de fim, de criação ou de destruição, as palavras se referem aos processos cíclicos de aparição ou desaparecimento das coisas, de saída ou retorno das mesmas em sua eterna origem[i].

Brahma se confunde com o universo, ao mesmo tempo o gera. O deus Brahma antecede neste sentido a existência da matéria e de cada energia, pois ele é a fonte suprema da energia que gera todas as coisas em si. Brahma é o Absoluto, fora dele só há o nada.

A teoria do Big Bang e o Judaísmo

A teoria do Big Bang é a principal hipótese quanto à origem do universo adotada pelos cientistas. Os cientistas afirmam que as nebulosas no universo se encontram em contínuo distanciamento entre si a uma velocidade de 1600 Km/s, segundo a lei de Hubble-Homason. Este distanciamento entre as nebulosas indica que no passado elas estiveram unidas em um único ponto.


Os cientistas afirmam que em um momento o aglomerado de matéria explodiu dando origem ao universo. A prova desta explosão foi descoberta por Fred Hoyle em 1964. Ele descobriu a radiação cósmica de fundo em micro-ondas. A explosão gerou uma forte expansão de ondas de radiação, as quais podem ser percebidas até hoje. Como as ondas provêm de um único ponto, isto significa que ali houve uma tremenda explosão por volta de 13,3 a 13,9 bilhões de anos atrás.

A tradição judaica professa no livro do Gênesis a sua fé na origem do universo: “No princípio Deus criou o céu e a terra” (Gn 1,1). A fé na criação implica crer que do nada Deus criou todas as realidades visíveis e invisíveis.

Conclusão: A origem do universo segundo os cientistas de nosso tempo não está distante das afirmativas milenares presentes nas maiores religiões do mundo. Ciência e religião demonstram que a mente humana busca, como que por instinto uma causa comum a todas as coisas.  

Prof. Leandro César





[i] RIVA, Ernesto. La Filosofia induista in: http://www.filosofico.net/filosofiainduista.htm

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