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Jesus escolheu doze para serem suas principais testemunhas. Por
isso, o segundo passo será conhecer cada um deles.
O terceiro passo será a análise do convívio entre Jesus e os
apóstolos. O presente estudo levará em consideração os seguintes aspectos:
comunidade de amigos e discípulos; comunidade de testemunhas; comunidade de
pecadores e incrédulos; comunidade fundada na esperança da manifestação messiânica
e, por último, comunidade de mártires.
1.
Jesus quis viver em comunidade
A fé cristã afirma que Deus é comunidade. O apóstolo João ao
interpretar essa comunidade diz que sua essência é amor: “Deus é amor” (1Jo
4,16). A palavra de Deus afirma que o principal elemento do amor é a união, por
isso, a imagem do matrimônio sempre é apresentada para ilustrar o amor de Deus
por seu povo (Exemplo: “Eu sou para o meu amado e o meu amado é para mim” Ct
6,3). O amor é, portanto, a união entre pessoas que se expressa no sair
totalmente de si em vista do bem do amado. O apóstolo Paulo descreveu o amor de
Cristo:
“Haja entre vós o mesmo sentir e pensar que no Cristo Jesus. Ele,
existindo em forma divina, não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se,
assumindo a forma de escravo e tornando-se semelhante ao ser humano” (Fil
2,6-7).
O texto acima demonstra que Jesus, sendo o Senhor, assumiu a forma
de escravo, ou seja, de servidor. A essência do amor consiste em despojar-se de
si através do serviço aos outros, na doação e no acolhimento aos outros. O fato
de tornar-se humano significa que ele tomou para si a fraqueza humana,
acolheu-a totalmente. O amor é doação e
acolhimento.
A pergunta que surge é: Por que Jesus quis conviver com doze
homens de forma especial?
Jesus quis estar com os doze para inserir todos os homens na
comunidade trinitária. Este desejo e plano de conviver com todos os homens,
tornando-os filhos de Deus é confirmado em vários momentos do evangelho.
Destacam-se dois, um na encarnação e outro na ascensão.
João escreveu: “Esta era a luz verdadeira, que vindo ao mundo a
todos ilumina. Ela estava no mundo, e o mundo foi feito por meio dela, mas o
mundo não a reconheceu. Ela veio para o que era seu, mas os seus não a
acolheram. A quantos, porém, a acolheram, deu-lhes poder de se tornarem filhos
de Deus: são os que creem em seu nome. E a Palavra se fez carne e veio morar
entre nós”(Jo 1,9-12.14).
Mateus escreveu: “Ide, pois, fazer discípulos entre todas as
nações, e batizai-os em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19).
Os dois textos demonstram que Jesus quis morar entre os homens, ou
seja, conviver com eles, ter intimidade com eles, mas não somente isso. Ele
quis torná-los divinos, filhos de Deus para conviver com eles por toda a
eternidade. Por isso, o batismo. Mateus demonstra que Jesus inseriu o batismo
com esta finalidade. O termo batismo no sentido original significa colocar
dentro, imergir. Nas Escrituras o nome sempre indica identidade. Por isso, o
batismo é imergir alguém dentro do nome, ou seja, na vida íntima divina, na
comunhão com o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
A comunidade com os Doze indica o novo Israel. Deus não quis
conviver com um grupo restrito de pessoas, com o povo de Israel simplesmente ou
com os Doze somente. Jesus escolheu Doze para conviver com eles visivelmente
por um curto período de tempo para depois conviver de forma invisível, neste
mundo, com todos aqueles que creem.
2.
Os doze escolhidos por Jesus
Antes de abordar o tema do convívio entre Jesus e os apóstolos, é
preciso compreender, de forma individual, cada apóstolo. O papa Bento XVI
durante o ano de 2006 apresentou à Igreja cada apóstolo de forma particular.
Catequeses
do PP. Bento XVI sobre os apóstolos
3.
O convívio entre Jesus e os apóstolos
Diversas características ressaltam do convívio entre Jesus e os apóstolos. Dentre elas destaca-se: uma comunidade alicerçada no discipulado e na amizade, uma comunidade de testemunhas, uma comunidade de pecadores e incrédulos, uma comunidade de mártires,
3.1 Comunidade de amigos e
discípulos de Jesus
O evangelistas narram que
Jesus convidou os doze a seguí-lo (cf. Mc 1,17.19; 2,14; Mt 4,19.22). Os
escolhidos tornaram-se seguidores de Jesus. Eles tornaram-se aqueles que iam
atrás dele. Em outras palavras, tornaram-se seus discípulos, aprendizes do modo
de sentir, pensar e agir de Jesus. Jesus revelou-se de tal forma a seus
discípulos que lhes chamou de amigos (Jo 15,15).
Jesus convidou vários homens
a serem seus discípulos, mas preferiu escolher somente doze para um convívio
mais próximo de discipulado e amizade. Contudo ele não restringia seus vínculos
aos doze. O critério de amizade para ele vai além dos vínculos de afeição, de
simpatia: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que vos mando” (Jo 15,15). Amigo
de Jesus é quem ouve a sua palavra e a coloca em prática, é quem faz a vontade
de Deus (Mc 3,35).
Portanto, a primeira
característica do grupo dos doze era o chamado a seguir Jesus como discípulo. Os
apóstolos acolheram a vida comunitária somente por causa de Jesus, para estarem
com ele, para serví-lo. A vida comunitária que eles abraçaram não excluía seus
vínculos familiares, pois os apóstolos em sua maioria eram casados e levavam
consigo suas esposas para a missão (cf. I Cor 9,5). Contudo, Jesus lhes ensinou
que para ser seu discípulo era necessário amá-lo acima de qualquer outro amor,
ou seja, amá-lo em primeiro lugar (cf. Mc 8,34-38; Mt 16,24-28; Lc 14,33).
3.2
Comunidade de testemunhas de Jesus
A segunda
característica do convívio dos apóstolos com Jesus é o testemunho. Os apóstolos
foram aqueles que estiveram com ele desde o batismo de João até sua ascensão ao
céu (At 1,21-22). Eles viram os prodígios, sinais e milagres que realizou (cf.
At 2,22). Eles ouviram e apalparam a Palavra da vida (1Jo 1,1). Antes e após a
ressurreição de Jesus tornaram-se seus anunciadores e operavam sinais em seu
nome (cf. Lc 10, At 1,1-28,31).
3.3
Comunidade de pecadores e incrédulos
Os
apóstolos não foram escolhidos por causa de nenhum motivo aparente aos homens
(fé, caridade, virtudes, qualidades, temperamento etc.). A única explicação que
o evangelho fornece é que Jesus escolheu aqueles que ele quis (cf. Mc 3,13).
Eles
possuíam diferenças de idade, de condição social e estado de vida. Essas
características não possuem importância para o evangelho, pois Jesus os
classificou simplesmente como pecadores: “Não vim chamar os justos, mas os
pecadores” (Lc 5,32). Jesus colocou seus apóstolos na condição de qualquer
outra pessoa do mundo. Eles não eram mais importantes por estarem ao seu lado,
eram pecadores necessitados de salvação como qualquer outra pessoa.
O
principal pecado, o orgulho que faz o homem voltar-se sobre si mesmo (cf. Gn
3,5) era presente, também, nos apóstolos. Satanás no deserto da Judeia quis
seduzir Jesus a voltar-se sobre si mesmo para tirar os olhos da vontade de
Deus. Por isso, tentou seduzi-lo a transformar a pedra em pão, a querer ter
riquezas e poder. No fundo das tentações está a estratégia de querer conduzir
Jesus a querer ser “senhor” e não “servo”, a ter “poder” e não “serviço”.
Os
evangelistas não esconderam essa profunda fragilidade humana presente nos
apóstolos. Eles deram alguns exemplos:
“Chegaram
a Cafarnaum. Estando em casa, Jesus perguntou-lhes: ‘Que discutíeis pelo
caminho? Eles, no entanto, ficaram calados, porque pelo caminho tinham
discutido quem era o maior” (Mc 9,33-34).
Jesus,
em seguida, indicou-lhes o caminho da perfeição:
“Se
alguém quiser ser o primeiro, seja o último de todos, aquele que serve a todos”
(Mc 9,35).
Outro
exemplo:
“A
mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, aproximou-se de Jesus e prostou-se
para lhe fazer um pedido. Ele perguntou: ‘Que queres? Ela respondeu: ‘Manda que
estes meus dois filhos se sentem, no teu Reino, um à tua direita e outro à tua
esquerda” (Mt 20,20-22).
Jesus,
mais uma vez indicou-lhes o caminho da perfeição:
“Sabeis
que os chefes das nações as dominam e os grandes fazem sentir seu poder. Entre
vós não deverá ser assim. Quem quiser ser o primeiro entre vós, seja o vosso
escravo. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar
a vida em resgate por muitos” (Mt 20,25-28).
O
último exemplo não precisa ser reescrito: Os apóstolos eram tão cheio de si
mesmos a ponto de dizer que dariam sua vida por Jesus, mas o abandonaram no
momento de sua paixão e Pedro, o negou três vezes. Somente João perseverou até
o fim.
Quanto
à falta de fé em Jesus quantas vezes os apóstolos foram questionados por não
confiarem totalmente nele: em meio a tempestade ficaram cheios de medo a ponto
de Jesus lhes perguntar: “Por que tanto medo, homens de pouca fé?” (Mt 8,26).
Os apóstolos ao verem Jesus caminhando sobre as águas ficaram com medo. Pedro
depois quis andar sobre a água, começou a caminhar, mas sentindo o vento ficou
com medo e começou a afundar. Jesus lhe disse: “Homem de pouca fé, por que
duvidaste?” (Mt 14,31).
Há
outros exemplos narrados pelos evangelistas que demonstram a condição pecadora
e frágil dos apóstolos no convívio com Jesus. Contudo, em nenhum momento
verifica-se a presença de julgamentos negativos a respeito da conduta deles.
Não há julgamentos sobre defeitos ou fragilidades dos apóstolos. Jesus viveu o
que ensinou a este respeito: “Ora, eu vos digo: Todo aquele que tratar seu
irmão com raiva deverá responder no tribunal; quem disser ao seu irmão: ‘imbecil’
deverá responder perante o sinédrio; quem chamar seu irmão de ‘louco’ poderá
ser condenado ao fogo do inferno” (Mt 5,22).
Embora
frágeis, seguiram Jesus devido à esperança em sua manifestação gloriosa.
3.4
Comunidade fundada na expectativa messiânica
O
apóstolo João enfatizou que os apóstolos eram pessoas que possuíam um ardoroso
desejo por Deus e pela manifestação gloriosa de seu reino (cf. Jo 1,35-51).
Após sua morte ficaram decepcionados, pois pensaram que ele libertaria Israel
(cf. Lc 24,21). Eles aguardavam a vinda do Messias glorioso e ansiavam por
isso. Os apóstolos manifestaram essa ansiedade no dia da ascensão de Jesus ao
céu perguntando-lhe: “Senhor, é agora que vais restabelecer o Reino para Israel?”
(At 2,6).
Os
apóstolos transmitiram essa expectativa com intensidade aos primeiros cristãos.
Paulo na segunda carta aos Tessalonicenses confirma dizendo: “Quanto à vinda de
nosso Senhor Jesus Cristo e à nossa reunião junto dele, nós vos pedimos,
irmãos, que não vos deixeis abalar, assim tão depressa, em vossas convicções
nem vos alarmeis com alguma pretensa revelação do Espírito ou alguma instrução
ou carta atribuída a nós e que desse a entender que o dia do Senhor já está
chegando” (2 Tes 2,1-2).
3.5
Comunidade de mártires
Os
Atos dos Apóstolos é um livro que demonstra como os apóstolos conviviam com
Jesus ressuscitado após sua ascensão ao céu.
Lucas
narrou:
“Eles
eram perseverantes em ouvir o ensinamento dos apóstolos, na comunhão fraterna,
na fração do pão e nas orações. Apossava-se de todos o temor, e pelos apóstolos
realizavam-se numerosos prodígios e sinais. Todos os que abraçavam a fé viviam
muito unidos e possuíam tudo em comum; vendiam suas propriedades e seus bens e
repartiam o dinheiro entre todos, conforme a necessidade de cada um.
Perseverantes e bem unidos, frequentavam diariamente o templo, partiam o pão
pelas casas e tomavam a refeição com alegria e simplicidade de coração” (At
2,42-47).
A
primeira comunidade cristã viva desta maneira porque os apóstolos viviam desta
maneira. Segundo o livro dos Atos os apóstolos consagraram-se inteiramente ao
cuidado da comunidade e ao anúncio do evangelho a toda criatura.
Uniram-se
de tal forma a Cristo a ponto de terem uma morte semelhante à dele. Mateus
morreu à espada na Etiópia. André foi crucificado na Acaia. Filipe foi
enforcado em Hierápolis. Bartolomeu foi esfolado vivo e crucificado de cabeça
para baixo. Simão morreu crucificado. Tiago, o menor, foi apedrejado até a
morte em Jerusalém. Judas Tadeu e Simão ,o Zelote foram martirizados juntos na
Pérsia. Pedro foi crucificado de cabeça para baixo em Roma. Tiago, o maior, foi
decapitado em Jerusalém. João foi colocado dentro de um caldeirão de azeite
fervente, mas sobreviveu, morrendo de morte natural aos cem anos de idade. Tomé
foi martirizado em Madras na Índia. Paulo foi decapitado em Roma.
O
medo é muito destacado nos evangelhos como uma das principais fragilidades dos
apóstolos. À medida que foram crescendo no amor a Cristo e aos outros foram
perdendo o medo alcançando o estágio do perfeito amor. Como disse o apóstolo
João: “No amor não há medo. Ao contrário, o perfeito amor lança fora o medo,
pois o medo implica o castigo, e aquele que tem medo não chegou à perfeição do
amor” (1Jo 4,18).
4.
Conclusão
Os Evangelhos
e os Atos dos Apóstolos demonstram que o convívio dos apóstolos com Jesus foi
marcado por um caminho de crescimento na fé, na esperança e na caridade. Eles
foram assimilando aos poucos quem era Jesus, o Messias, Filho de Deus e Senhor.
Que primeiramente veio para realizar as profecias do Servo Sofredor que iria
sofrer muito, ser rejeitado e morrer, mas que, também, ressuscitaria e, no
tempo determinado por Deus, viria para julgar os vivos e mortos.
Durante
o convívio com Jesus eram pessoas normais, pecadores, incrédulos e medrosos.
Além disso, eram orgulhosos e cada um desejava ser o maior no grupo. Inclusive
caíram na fraqueza de fecharem-se como um grupo privilegiado por Jesus (cf. Mc
9,38-40). Contudo, aos poucos cresceram no amor ao ponto de chegarem a
perfeição da caridade, lançando fora todo o medo, identificando a Jesus no
serviço aos outros ao ponto de receberem o dom do martírio.
Professor Leandro César
Mestrado em Teologia - FAJE, Belo Horizonte MG.
Bacharel em Teologia - Studium Theologicum Jerosomilitanum, Jerusalém - Israel.
Filosofia - Canção Nova, Cachoeira Paulista SP
muito instrutivo e pedagógico. tks.
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