Texto extraído do livro:
DADOS HISTÓRICOS
O LIVRO DAS RELIGIÕES
DADOS HISTÓRICOS
Até 1911 a China foi uma
potência imperial, onde o imperador reinava acima de tudo. O imperador era
considerado o representante do país diante do supremo deus Céu. Ao mesmo tempo,
era também o filho do Céu na Terra. O próprio imperador realizava o sacrifício
ao Céu no Templo do Céu, situado na capital, Pequim. Fazia ainda sacrifícios às
montanhas e aos rios sagrados da China.
O Império chinês era uma
sociedade hierárquica, com líderes permanentes. A frente da administração havia
uma elite de funcionários altamente letrados, os mandarins. Sua ideologia era o
confucionismo, um conjunto de pensamentos, regras e rituais sociais
desenvolvidos pelo filósofo K'ung-Fu-Tzu (ou, na forma latina, Confucius) cujas
doutrinas prevaleceram na China até a queda do imperador. Confúcio também
formulou normas para a vida religiosa, para os sacrifícios e os rituais. O
confucionismo era, na verdade, uma religião estatal praticada pela elite e
pelas classes dominantes, a qual, no entanto, nunca se disseminou muito entre
as massas, as camadas mais amplas da população. Da mesma forma que o imperador,
em seu palácio em Pequim, ficava remotamente afastado das pessoas comuns, o Céu
era remoto e impessoal para a grande massa dos chineses pobres, trabalhadores e
camponeses. A religião dos pobres era a adoração dos espíritos, particularmente
dos antepassados, religiosidade carregada de magia e traços de outras
religiões. As grandes potências da Europa constituíam uma ameaça para a
independência econômica e política do país. Isso explica, em parte, a tendência
isolacionista e o ceticismo em face dos impulsos vindos do exterior. Os
intelectuais atacavam a religião popular, acreditando que esta era um obstáculo
para a ciência moderna e o moderno pensamento político. Isso levou alguns a
tentarem um reavivamento e uma modernização das antigas religiões, ao passo que
outros desenvolveram um interesse maior por idéias não religiosas vindas do
Ocidente.
Em 1911 os incompetentes
governantes imperiais foram derrubados e a China se tornou uma república.
Porém, as condições políticas se mantiveram instáveis por causa de uma guerra
civil e da guerra contra o Japão. Em 1949 os comunistas tomaram o poder.
CONFÚCIO (551-479 A.C.)
Há alguma incerteza quanto
às origens de Confúcio, mas é provável que ele tenha nascido numa família
aristocrática empobrecida. Recebeu uma boa educação e se tornou um sábio,
atraindo muitos discípulos. Algumas de suas interpretações da filosofia antiga
e das tradições, em especial quando ele tocava em assuntos relacionados a ética
e filosofia social, foram inovadoras.
Confúcio acreditava que o
Céu o escolhera para revitalizar a cultura e a moralidade estabelecidas pelos
sagrados imperadores em tempos antigos. Só que ele não organizou suas idéias em
nenhum sistema simples, nem as registrou ele mesmo, motivo por que elas
chegaram até nós apenas por meio dos escritos de seus discípulos.
A TRADIÇÃO CONFUCIANA
Confúcio teve um efeito
decisivo no desenvolvimento da China. Após sua morte, os discípulos começaram a
difundir e ampliar suas idéias. O confucionismo acabou se tornando uma espécie
de religião estatal da China, chegando muitas vezes a atacar outras religiões,
como o budismo e o taoísmo. Foram construídos templos em honra a Confúcio e se
ofereciam sacrifícios a ele na primavera e no outono, assim como se ofereciam
sacrifícios ao Céu.
Apesar disso, deve-se
enfatizar que o confucionismo nunca havia sido uma religião independente.
Falando-se mais precisamente: o termo abrange uma série de idéias filosóficas e
políticas que formavam os pilares do governo e da burocracia da China imperial,
muito embora a ética do confucionismo também permeasse amplas camadas da
população chinesa. É típica dessa tradição sua visão política pragmática e seu
interesse pelas questões sociológicas reais, como a educação dos filhos, o
papel do indivíduo na sociedade, as regras corretas de conduta etc. Seu
interesse pelas questões religiosas e metafísicas é muito menor.
ATITUDE SOCIAL E HUMANA
Uma das idéias fundamentais
deConfúcio era que a natureza e o universo estão em harmonia, e que isso deve
se aplicar também ao homem. Para esse fim, Confúcio adotou alguns antigos
conceitos chineses e os moldou a seus próprios objetivos. O tao é a harmonia
predominante no universo; em outras palavras, o relacionamento bom e
equilibrado entre todas as coisas. Essa harmonia é um modelo para a sociedade,
na qual, da mesma forma, o indivíduo deve tentar viver em compreensão e harmonia.
Isso pode ser atingido se seu ser interior estiver em consonância com o tao,
pois então ele encontrará o incentivo necessário, o te, ou o caminho certo para
a ação.
A fim de alcançar a harmonia
com o tao, o homem precisa de conhecimento e compreensão, o que ele pode obter
estudando o passado, a tradição. Esta ensina ao indivíduo as regras de
comportamento correto, a celebração fiel dos rituais e das cerimônias
religiosas, e qual é seu devido lugar na sociedade.
Confúcio via o homem como
naturalmente bom e pensava que todo mal brota da falta de conhecimento. A
educação, portanto, implica transmitir os conhecimentos corretos.
O lugar do indivíduo na
sociedade é regulado por cinco relações: entre senhor e servo, entre pai e
filho, entre mais velho e mais jovem, entre homem e mulher, e entre amigo e
amigo. Isso significa que o soberano deve ser bom e o servo deve ser leal, uma
relação que tornou o confucionismo politicamente conservador e dificultou os
desafios à autoridade. Isso significa também que o pai deve ser amoroso e o
filho respeitador, uma idéia ligada ao culto dos antepassados. E significa que
o homem deve ser justo e a mulher obediente, o que diz bastante sobre o papel
da mulher nesse sistema.
O ideal para todos os homens
e os conceitos mais importantes para Confúcio são: piedade filial, respeito e
reverência.
Confúcio
e as coisas religiosas
Confúcio não se opunha, de
modo nenhum, à religião popular, e não duvidava que os deuses e os espíritos
existissem.
Acreditava que um ser
sobrenatural o inspirava: "O Céu deu à luz a virtude dentro de mim".
Só que o Céu para ele não era um Deus pessoal. Ainda que este lhe desse
inspiração e direção, Confúcio não fundamentou sua ética em mandamentos morais
transmitidos por Deus.
O mais importante para Confúcio
era que os deuses deviam ser cultuados adequadamente, que os rituais, os
sacrifícios e as cerimônias deviam ser realizados corretamente, pois isso
demonstrava a piedade filial da pessoa. Mas ele não estava interessado em
assuntos religiosos ou metafísicos. Consta que ele disse: "Mostre respeito
pelos deuses, mas mantenha-os à distância". E quando lhe perguntaram sobre
a vida após a morte, respondeu:
"Quando não se
compreende nem sequer a vida, como se pode compreender a morte?".
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