Texto extraído do livro:
O LIVRO DAS RELIGIÕES
No Japão, a antiga religião
nacional é o xintoísmo. A partir de 500 D. C, o xintoísmo enfrentou dura
competição com o budismo, e as duas religiões acabaram por influenciar uma à
outra. Não é raro, no Japão, o uso alternado de várias religiões. Uma criança
pode ser abençoada pelos deuses num ritual xintoísta e ser enterrada num ritual
budista. O casamento pode se realizar numa igreja cristã.
Essa mistura de religiões
encontrou expressão modernamente numa série de novas seitas, cultos e
comunidades religiosas, o que levou o Japão moderno a ser chamado de
laboratório religioso.
Características
do xintoísmo
Costuma-se dizer que o
xintoísmo possui diversos milhões de deuses, ou kamis, que se manifestam sob a
forma de árvores, montanhas, rios, animais e seres humanos. Só que a palavra
japonesa kami também pode ser traduzida como "espírito". O culto aos
espíritos naturais e ancestrais sempre foi fundamental para o xintoísmo, desde
os dias em que o Japão ainda era uma sociedade agrária. O culto aos
antepassados se difundiu particularmente sob a influência do confucionismo
chinês.
ORIGEM DIVINA DOS JAPONESES
No princípio, segundo a
mitologia japonesa, um casal divino, Izanagui e Izanami, desceu do céu e gerou
as ilhas japonesas, depois o resto do mundo e tudo o que há nele, e por último
uma série de deuses, os kamis. Destes, o mais importante era a deusa do sol, Amaterasu.
Os outros kamis se estabeleceram na terra e conceberam os primeiros seres
humanos. Mas a sociedade humana precisava de ordem e comando, e por isso o neto
de Amaterasu foi enviado à terra.
Um de seus descendentes se
tornou o primeiro imperador do Japão.
Assim, todos os japoneses
têm origem divina, mas em especial o imperador, que é descendente da própria
deusa do sol.
RELIGIÃO ESTATAL E CULTO
IMPERIAL
Aos poucos foi ocorrendo uma
mudança: em vez de adorar os kamis do falecido imperador, passou-se a adorar o
próprio imperador.
Ele era um kami vivo. A
origem do culto ao imperador se explica, em parte, pelas condições políticas do
século passado. O Japão estava ameaçado pelo expansionismo ocidental e sentiu
necessidade de reforçar no povo o caráter nacional. Ao mesmo tempo, a
autoridade do imperador tinha sido solapada por líderes militares, os xoguns,
que detinham o poder.
Em 1867, um golpe de Estado
deu ao imperador Meiji o controle do país; ele iniciou então uma renovação
política e religiosa.
O xintoísmo se tornou a
religião estatal, ao passo que templos budistas foram derrubados e vários
elementos budistas foram expurgados da cultura xintoísta.
Retratos do imperador foram
pendurados em todos os edifícios oficiais, nas escolas e nas fábricas, e as
pessoas tinham de se curvar respeitosamente diante deles.
Juntamente com o culto ao
imperador veio à tona um forte nacionalismo. Essa foi a base para o crescente
expansionismo japonês, que culminou na Segunda Guerra Mundial, quando o Japão
se alinhou com a Alemanha.
A religião ficou então
totalmente vinculada ao nacionalismo.
Um exemplo: o xintoísmo era
a ideologia dos pilotos suicidas japoneses (kamikaze quer dizer "vento
divino").
Cada soldado que morria na
guerra era imediatamente transformado num kami, e em sua honra se realizavam
cerimônias nos templos xintoístas.
Após a derrota do Japão na
guerra, em agosto de 1945, o imperador fez uma declaração renunciando a sua
condição divina. O xintoísmo deixou de ser religião estatal; porém, o xintoísmo
popular, que sempre havia coexistido com o culto imperial, sobreviveu e passou
a experimentar um certo reavivamento.
O culto é observado tanto no
lar como nos templos, dos quais há cerca de 20 mil. Antes administrados pelo
governo imperial, os templos são hoje organizados em associações, com líderes eleitos
pelo voto.
O TEMPLO— MORADA DOS KAMIS
O templo xintoísta não é um
local para pregações. E a morada de um kami, o lugar onde este é cultuado
segundo certos rituais prescritos.
No santuário interno do
templo há um objeto que simboliza a proximidade do kami. É esse símbolo que
torna o templo um lugar sagrado. Os três símbolos mais importantes são: um
espelho, uma jóia ornamental e uma espada, que ficam guardados em três dos
maiores templos xintoístas. O espelho, a jóia e a espada estão ligados a um mito
relativo à deusa do sol, Amaterasu, e ao primeiro imperador do Japão.
Segundo um dos antigos mitos
divinos, Amaterasu certa vez foi provocada e se escondeu numa caverna. Mas ela
foi atraída para fora por um espelho e convencida a brilhar novamente.
O SACERDÓCIO
Originalmente, as cerimônias
eram realizadas pelo chefe da família ou do clã; num nível mais alto na escada
social, por um príncipe ou pelo próprio imperador.
Aos poucos foi se
desenvolvendo o sacerdócio como função mais especializada, em geral passada de
geração em geração em determinadas famílias. Esse sacerdócio hereditário foi
abolido quando o imperador elevou o xintoísmo à condição de religião estatal e transformou
os sacerdotes em funcionários públicos.
Hoje, os sacerdotes em tempo
integral ou parcial são nomeados pela organização dos templos. A maioria deles
é casada e tem também um emprego secular. Após a guerra, as mulheres passaram a
ser elegíveis para o sacerdócio.
Os deveres do sacerdote são
acima de tudo rituais: ele deve saber conduzir as cerimônias diárias e as
grandes festividades religiosas.
Os
quatro principais aspectos do culto
Parte essencial do
xintoísmo, as cerimônias religiosas ajudam a evitar acidentes, promovem a
cooperação e o contato com os kamis, e geram o contentamento e a paz para o
indivíduo e a sociedade.
As cerimônias variam desde
as mais simples, realizadas no lar, até as grandes festas anuais dos templos.
Quatro elementos, porém, estão sempre presentes.
PURIFICAÇÃO
O objetivo da purificação é
banir tudo o que seja mau ou injusto, tudo o que possa pôr em perigo a relação
do indivíduo com os kamis. A impureza é associada principalmente à doença e à
morte, mas todas as funções carnais também geram impureza.
Todo serviço divino começa
com uma purificação, que pode consistir apenas em lavar a boca e despejar um
pouco de água na ponta dos dedos. No templo, ela é realizada pelo sacerdote,
que agita um cajado especial diante dos indivíduos ou objetos a serem
purificados. Na ponta desse cajado da purificação se encontram amarradas fitas
de papel ou fios de linho, que o tornam semelhante a uma vassoura.
SACRIFÍCIO
Se as oferendas prescritas
não são feitas, o indivíduo pode perder contato com os kamis e sofrer
infortúnios. A oferenda pode consistir em dinheiro, alimentos ou bebidas. As
diversas atividades artísticas ou esportivas associadas às festividades do
templo também têm um significado religioso e devem ser consideradas uma espécie
de sacrifício. Dança, teatro, luta e arco e flecha são atividades que se realizam
em honra aos deuses.
ORAÇÃO
A oração em geral começa com
uma expressão de louvor ao kami a quem se dirige e uma expressão de gratidão
por sua benevolência. Também se faz freqüente alusão à origem mítica
relacionada com a oração, em outras palavras, seu fundamento místico. Depois se
especificam as oferendas, com o nome da pessoa que está fazendo o sacrifício; a
seguir, pode-se incluir um pedido em forma de oração.
REFEIÇÃO SAGRADA
Na conclusão da cerimônia há
um naorai — uma refeição com os kamis. O sacerdote dá a cada um dos presentes
uma pequena quantidade de vinho de arroz.
O culto no lar
Em quase todos os lares
existe um pequeno altar chamado kamidana. Neste, há objetos simbólicos, como um
amuleto para o kami, um pequeno espelho, uma vela, um vaso contendo galhos da árvore
sakaki.
Dá-se início ao ritual
lavando a boca e as mãos. Em seguida, põe-se um sacrifício diante do altar;
pode ser algo tão comum como uma tigela com água ou alguns grãos de arroz. O
suplicante senta ou fica em pé sobre um tapetinho, com a cabeça respeitosamente
curvada. Após uma pequena oração, ele inclina a cabeça duas vezes, bate palmas
duas vezes com as mãos erguidas e inclina mais algumas vezes a cabeça para
finalizar o culto. Todos os alimentos que foram oferecidos são depois retirados
e comidos à mesa.
Tenri-kyo
A tenri-kyo tem suas raízes
na religião nacional japonesa, o xintoísmo, mas sofreu influências de várias
outras. Foi iniciada em 1838 por uma mulher, Miki Nakayama. O deus Oya-gami lhe
fez muitas revelações divinas e passou a habitar dentro dela.
Essas revelações estão
registradas em escritos sagrados, um dos quais afirma: "Meus atuais
pensamentos são expressos pela boca de Miki Nakayama. É verdade que é uma boca
mortal que fala, mas são os pensamentos de um deus que formam as
palavras".
A tenri-kyo é uma religião
monoteísta. O deus Oya-gami é o único deus verdadeiro: criou o mundo e tudo o
que há nele. O homem foi criado para a alegria e a realização plena na vida. O
pecado implica que a pessoa é ingrata para com Deus e seus dons, e o caminho da
salvação é viver uma vida contente aqui e agora. Como diz uma das revelações:
"O deus da criação fez o homem para que este se deleite em sua feliz existência".
O lado criacional é
fundamental na tenri-kyo. Isso se evidencia em seu culto, no qual se representa
a criação numa dança ritual. Nessa dança, pede-se a Deus que abençoe tudo o que
criou.
Como ocorre no xintoísmo, é
importante que Deus garanta a renovação de todas as coisas vivas, da vida
humana e da vida natural.
Um aspecto da renovação da
vida é a ênfase especial posta pela tenri-kyo na cura do sofrimento e da
doença. Uma bênção dada durante o serviço diário do templo diz: "Atenda ao
serviço divino diligentemente todos os dias, pois isso irá protegê-lo contra
todos os infortúnios. Tomando parte ativa no serviço divino, até as doenças
mais sérias serão curadas".
O objetivo da tenri-kyo é
que todo mundo ouça a mensagem.
Então, um estado de perfeita
felicidade passará a existir na Terra.
A cidade em que Miki
Nakayama recebeu sua revelação se chama Tenri. Ali se encontra a sede desta
religião, um enorme edifício que pode abrigar 25 mil pessoas. Essas sedes
imensas — muitas delas construídas em belo estilo arquitetônico — também são
típicas de algumas das outras novas religiões do Japão. A tenri-kyo está
envolvida em ampla atividade missionária nas Américas e em vários países da
Ásia.
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